O governo vai instalar um posto de acolhimento no Aeroporto de Confins, em Minas Gerais, para receber os brasileiros deportados dos Estados Unidos. O anúncio foi feito, nesta terça-feira, pela ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva; ministros de Estado; o diretor da Polícia Federal, Andrei Rodrigues; e o comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar Marcelo Damasceno. O Palácio do Planalto descartou, porém, a possibilidade de enviar aviões para trazer os cidadãos, como fez a Colômbia.
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“Vamos iniciar as tratativas para estabelecer em Confins um posto de acolhimento humanitário, tendo em vista que poderemos ter mais voos previstos”, declarou Macaé Evaristo. “Assim como a gente recebe bem imigrantes e refugiados, mais ainda temos que ter um esforço para acolher os brasileiros que estão sendo repatriados.”
Lula convocou a reunião para receber informações sobre o ocorrido no voo com deportados que pousou em Manaus, na última sexta. Um grupo de 88 cidadãos retornou com algemas nas mãos e correntes nos pés, e alguns dizem ter sido agredidos. Além disso, segundo relatos dos passageiros, um dos motores parou durante a viagem, e o ar-condicionado não funcionou.
Lula também discutiu que ações o governo pode tomar junto às autoridades americanas para garantir a deportação em condições dignas. A sinalização é de que o Brasil não vai se meter com as políticas de imigração dos EUA nem buscar o conflito, mas também não deixará de exigir tratamento humanitário.
Já o chanceler Mauro Vieira descartou o envio de aeronaves da FAB para as próximas deportações. Segundo ele, os EUA devem se responsabilizar em enviá-los de forma digna.
Vieira classificou a situação dos deportados como “trágica”. Na avaliação dele, o avião que chegou a Manaus poderia ter sofrido um acidente. “O objetivo da reunião, além de transmitir ao presidente o que aconteceu, foi, também, discutir formas de tratar do tema daqui em diante e discutir com as autoridades americanas que as deportações sejam feitas atendendo aos requisitos mínimos dos direitos humanos”, frisou.
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Voos com brasileiros deportados pelos EUA ocorrem com frequência. No ano passado, segundo a Polícia Federal, foram 1.648 repatriados em 16 voos. Como praxe, os agentes de imigração dos EUA mantêm os passageiros algemados até pouco antes do pouso em território brasileiro — o que não ocorreu no caso do voo que chegou na sexta-feira. Isso foi considerado pelo Itamaraty uma quebra dos “entendimentos” definidos em notas consulares de 2014 e 2021 sobre o tema.
O encontro no Planalto tratou ainda das respostas dadas pelo encarregado de negócios da Embaixada dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar, à secretária de Comunidades Brasileiras e Assuntos Consulares e Jurídicos, embaixadora Márcia Loureiro, na segunda-feira. Ele foi chamado pelo Itamaraty para prestar esclarecimentos, e a conversa foi considerada positiva.
Reunião da Celac
Nesta quinta-feira, haverá reunião emergencial da Cúpula dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) para discutir as deportações. O Brasil deve defender a emissão de nota conjunta reforçando a cobrança para que os deportados tenham seus direitos fundamentais respeitados, mas sem críticas diretas ao governo Trump.
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