No encerramento do 16º Congresso do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), nesta quinta-feira (16/10), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um discurso marcado por reflexões sobre o futuro da esquerda e críticas ao avanço da extrema-direita no mundo. Diante de militantes e lideranças comunistas, Lula defendeu uma “autocrítica profunda” dos movimentos progressistas e afirmou que “a democracia foi derrotada” por não cumprir seu papel de promover igualdade e bem-estar social.
“Não tem democracia sem comida na mesa, sem salário, sem liberdade, sem universidade e sem direitos humanos. A democracia foi derrotada porque deixou de cumprir aquilo que era a razão da sua existência”, afirmou o presidente.
Lula iniciou a fala comentando uma mensagem que havia gravado mais cedo para um grupo europeu que discute a criação de um partido socialista. O presidente comparou os desafios da esquerda na Europa e na América do Sul, destacando o crescimento da extrema-direita em diversos países. “Não é fácil. A extrema-direita cresceu tanto no mundo, e os progressistas diminuíram tanto. A gente precisa parar para discutir isso e entender o que deixamos de fazer”, disse.
“Como explicar Bolsonaro presidente?”
Em tom de autocrítica, Lula questionou as razões que levaram figuras de extrema-direita ao poder em vários países, incluindo o Brasil. “Como é que se explica uma figura politicamente grotesca como Bolsonaro virar presidente da República?”, provocou. O petista lembrou o período entre 2002 e 2010, quando governou o Brasil e vivenciou, segundo ele, “o melhor momento político, ideológico e social da América do Sul”.
O presidente citou a antiga união entre os governos progressistas da região, como os de Hugo Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia), Michelle Bachelet (Chile) e Cristina Kirchner (Argentina), e lamentou o esvaziamento da União de Nações Sul-Americanas (Unasul). “Isso tudo acabou. E não é fácil reconstruir. As eleições estão mostrando que a extrema-direita está voltando”, alertou.
Ao se dirigir aos dirigentes do PCdoB, Lula destacou a importância de transformar as deliberações partidárias em ações concretas e criticou o isolamento dos discursos progressistas. “Nosso desafio não é agradar a nós mesmos. É convencer os outros que ainda não estão conosco”, disse.
O presidente também afirmou que a comunicação e o comportamento dos militantes são decisivos para reconquistar a confiança da população. “Não são apenas as palavras que convencem. É o nosso comportamento, o nosso dia a dia. Esse é o desafio da democracia hoje”, completou.
Desafio da esquerda
Lula conclamou a militância a refletir sobre os erros e omissões que abriram espaço para o avanço da extrema-direita. “Muitas vezes a gente joga a culpa nos outros, mas não pensa se errou, o que deixou de fazer ou de dizer. O desafio é reconstruir um projeto de nação que fale com as milhões de pessoas que não são organizadas, que muitas vezes nem são convidadas a participar”, afirmou.
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O discurso de Lula foi recebido com aplausos por dirigentes e parlamentares do PCdoB. O presidente destacou ainda a parceria histórica com o partido, citando lideranças como João Amazonas, Renato Rabelo e Luciana Santos — atual ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação. “Sou muito grato à minha relação de 35 anos com o PCdoB. O que precisamos agora é transformar nossos ideais em prática. A festa é hoje, mas a tarefa começa amanhã”, finalizou.
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