O presidente Luiz Inácio Lula da Silva retorna hoje ao Brasil pressionado a resolver o futuro do ministro das Comunicações, Juscelino Filho, indiciado por corrupção pela Polícia Federal (PF). Nesse cálculo sobre o futuro do deputado licenciado do União Brasil, pesam dois fatores: a extensão do estrago por manter um personagem, no primeiro escalão do governo, acusado de ter usado beneficiado a própria família por meio de emendas parlamentares; o preço de entrar em rota de colisão com o partido do ministro, que, apesar de ter cargos no governo, mantém uma postura de pouca fidelidade ao Palácio do Planalto.
Lula deixou claro que não trataria de assuntos internos no giro europeu, que incluiu Suíça e Itália. Esquivou-se de comentar a tramitação célere do Projeto de Lei 1.904/24 — que iguala o aborto após a 22ª semana de gestação ao homicídio — e fez uma defesa prévia, mas não muito enfática, de Juscelino. “O fato de o cara ser indiciado não significa que cometeu um erro. Significa que alguém está acusando e que a acusação foi aceita. Eu preciso que as pessoas provem que são inocentes. E ele tem o direito de provar que é inocente. Quando voltar ao Brasil, depois de participar da Cúpula do G7, vou sentar e descobrir o que aconteceu de verdade”, explicou o presidente, dando a entender que a situação de Juscelino Filho não é das melhores dentro do governo.
Desvios
O relatório da PF aponta que o ministro das Comunicações integrou uma “organização criminosa” que desviou emendas parlamentares, que passaram pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) para pavimentar estradas em Vitorino Freire (MA). A prefeita do município Luanna Rezende, irmão de Juscelino.
As obras beneficiaram, em sua grande maioria, propriedades da família do ministro. O caso foi remetido ao Supremo Tribunal Federal (STF) e a relatoria está com o ministro Flávio Dino. Ontem, o magistrado enviou o inquérito à Procuradoria-Geral da República (PGR), que decidirá se denuncia Juscelino ou arquiva o caso.
Indicação do senador Davi Alcolumbre (União-AP), o ministro nega as irregularidades de que é acusado pela PF — as emendas são da época em que Juscelino era deputado federal. Ele acusou a corporação de atuar politicamente e questionou a isenção do delegado responsável por seu depoimento.
O cálculo de Lula sobre o que fazer com Juscelino se complica porque o partido do ministro anunciou que o apoia integralmente. Na quarta-feira, quando o indiciamento do ministro veio à tona, o presidente nacional do União Brasil, Antônio Rueda, divulgou uma nota na qual afirma que “suspeitas são apenas suspeitas”.
Mais: endossa as críticas de Juscelino à PF. “(A investigação) teve início após sua nomeação para o primeiro escalão do governo federal, o que levanta suspeitas sobre uma possível atuação direcionada e parcial na apuração”, apontou Rueda. O líder do União na Câmara, Elmar Nascimento (União-BA), somou forças na defesa de Juscelino.
O União trabalha com a hipótese de que, apesar do indiciamento, Lula deixará as coisas como estão. Isso porque o momento para o governo no Congresso é negativo e não vale o desgaste de dispensar Juscelino, empurrando o partido para a oposição. Além disso, a legenda tem dois postulantes às presidências das Casas no Legislativo — Elmar é candidato ao comando da Câmara e Alcolumbre, ao do Senado. A aposta é de que Lula não pretende entrar em seu terceiro ano de mandato com dois adversários dessa envergadura.
A pressão para ejetar Juscelino vem de alas do PT. Argumentam que mantê-lo dá discurso à oposição de que o governo é tolerante com a corrupção. Além disso, a postura infiel do União Brasil no Congresso incomoda petistas e a articulação política do Palácio do Planalto — parlamentares do partido são sócios em algumas das mais contundentes derrotas do governo nos últimos dias. Por exemplo: na votação do veto de Lula ao PL das Saidinhas, 54 dos 58 deputados da sigla votaram contra o que decidira presidente.
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