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Relatora do PL sobre igualdade racial ameaçada de morte

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A relatora de um projeto de lei sobre igualdade racial, deputada federal Carol Dartora (PT-PR) recebeu 43 e-mails de diferentes remetentes com ataques racistas e ameaças de morte, nas últimas duas semanas.

O último, enviado na quarta-feira (30), mencionava ameaças de ataques físicos contra a parlamentar e seus familiares. Em um dos trechos do e-mail, a remetente escreve “Vou derramar gasolina sobre o seu corpo inteiro e colocar fogo. […] Me aguarde, macaca. Eu já sei a sua rotina, onde você e o seus parentes moram”.

Em outro trecho da mensagem, a remetente diz que “todos os pretos roubam as pessoas de bem” e menciona R$ 115 mil gastos pelo gabinete da deputada no mês de julho. Cada deputado recebe uma verba mensal para pagar os salários de até 25 secretários parlamentares que trabalham para o mandato, em Brasília ou nos estados, chamado de verba de gabinete.

Dartora recebeu, no mês de julho, R$ 125.478,69, mesmo valor que outros deputados, e usou R$ 115.489,21. “Você é só mais uma MACACA BANDIDA, assim como todos os outros pretos fedidos. A sua origem não nega. O preto pode ter a classe social que for e sempre roubara as pessoas boas e de bem”, escreveu, no e-mail, a remetente. Em outros e-mail, onde o autor é um homem, as ameaças são sexuais e com tom de deboche sobre o tema da “solidão da mulher negra”, muito discutido em conversas da militância negra. “A solidão é tanta que ninguém as quer nem para estuprar”.

Além disso, o autor também diz que as mulheres negras são superiores e sugere que a parlamentar tente suicídio para acabar com o “sofrimento e solidão”. No meio do mês de outubro, Dartora veio a público para divulgar os crimes e disse que os ataques são direcionados a todas as mulheres negras. “Essas ameaças são um ataque não só a mim, mas a todas mulheres negras que ousam ocupar espaços de poder. Eu não vou me calar, vou lutar por justiça, igualdade e respeito”, disse a parlamentar.

De acordo com a assessoria da parlamentar, a equipe jurídica do mandato anexou todo o conteúdo das mensagens a um pedido formal de investigação criminal, protocolado no Ministério Público Federal, no Departamento de Polícia Legislativa e na Polícia Federal. “Os crimes estão previstos em leis que tipificam racismo, violência política de gênero, instigação ao suicídio, cyberbullying, ameaça, perseguição e violência política contra a mulher”.

Essa não foi a primeira vez que a parlamentar recebeu ameaças de morte e ataques racistas. Desde 2020, logo após ser eleita vereadora de Curitiba, Dartora recebe mensagens de ódio de cunho racial. Em dezembro de 2020, recebeu também um e-mail em que o autor ameaçava “meter uma bala na sua cara”.

Relatoria

No mesmo dia do último e-mail, a deputada federal foi designada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), como relatora de uma projeto de lei para diminuir as desigualdades raciais no meio público. O PL 1958/2021 prevê a ampliação das cotas para a população negra, indígena e quilombola para o serviço público de 20% para 30%. A matéria foi aprovada no Senado Federal em julho deste ano e passará pelas comissões da Câmara.

Mesmo abalada com as mensagens de ódio, a parlamentar disse ao Correio que “assumir a relatoria tem um significado grande, principalmente, diante dos ataques racistas”. “Eu sou a primeira deputada federal negra do estado do Paraná e isso me coloca em uma posição de muita responsabilidade. Meu compromisso é com a construção de uma sociedade mais justa. Os ataques racistas que venho sofrendo apenas reforçam a urgência de projetos de igualdade racial”, argumenta. “Os ataques e ameaças são um reflexo do racismo que ainda está entranhado na nossa sociedade e que precisamos enfrentar com urgência e coragem”, completa.

A deputada, apesar de esperançosa em relação à aprovação da proposta, entende que ainda existe uma resistência grande de alguns parlamentares e da sociedade brasileira com políticas públicas voltadas para raça. “Embora o tema tenha conquistado apoio de muitos parlamentares, ainda enfrentamos a resistência de alguns setores que não compreendem a urgência e a importância dessas políticas”, diz.

“Além disso, movimentos antirracistas ainda são alvo de ataques e distorções, o que pode criar obstáculos no debate, porém seguiremos dialogando e mostrando que esse projeto é essencial para combater as desigualdades históricas” , argumenta. “Nossa meta é que esses 30% sejam um passo decisivo na direção de uma estrutura estatal, onde as políticas públicas sejam pensadas para todos os brasileiros sem distinção”, completa Dartora.

*Estagiária sob a supervisão de Edla Lula

 

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