Enquanto o governador gaúcho, Eduardo Leite (PSDB), e o ministro da Reconstrução do Rio Grande do Sul, Paulo Pimenta, deixam de lado as diferenças políticas para trabalharem juntos na reconstrução do estado, lideranças tucanas apostam na crise assumir a polarização com o governo federal. Um dos cardeais do PSDB que mais vocalizou críticas às ações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi o deputado federal Aécio Neves (MG), que classificou a escolha de Pimenta como “excrescência”.
Os tucanos vislumbram para o governo federal um efeito semelhante ao do furacão Katrina, que em 2005 devastou a cidade de Nova Orleans e derrubou a popularidade do então presidente George W. Bush. “Se o governo federal não entregar nada do que prometeu, e a tendência é de que não entregue, Lula perderá muito. Se não resolver os problemas, vai cair no colo dele”, aposta uma fonte da direção do PSDB.
Os tucanos têm certeza de que Pimenta é pré-candidato ao governo gaúcho em 2026, mas reconhecem ele tem sido um interlocutor do governador, o que não acontece com outros membros do Executivo federal. “Está mais difícil para o Leite conseguir algo com o (ministro da Fazenda, Fernando) Haddad, com o (ministro de Minas e Energia, Alexandre) Silveira, ou com o próprio Lula, do que com Pimenta”, criticam caciques do PSDB.
Irritado com os ruídos políticos na ajuda federal ao Rio Grande do Sul, o ex-governador Germano Rigotto (MDB) afirmou ao Correio que há lideranças tucanas de fora do estado jogando pesado para construir animosidades com o governo federal. “Tem gente criando problema onde não tem. Vi declarações de lideranças nacionais do PSDB, que provavelmente sequer colocaram o pé no estado, dando palpite e confundindo os assuntos. Se tem algum problema de condução do governo federal, o governador Leite tem toda a condição de cobrar isso e apontar onde está falhando”, afirmou.
Sobre a crítica dos tucanos de que Lula interveio no estado ao indicar Pimenta, Rigotto disse que o governador gaúcho segue dirigindo o Rio Grande do Sul. “Não existe essa história de interventor. Pimenta foi orientado pelo presidente a acompanhar o processo sem misturar a questão partidária e ideológica com aquilo que tem que acontecer. O governador é que comanda o processo de reconstrução”, frisou.
No governo federal, integrantes da força-tarefa no Rio Grande do Sul reconhecem que há diferenças com o governador, mas negam dificuldades no relacionamento ou alguma espécie de boicote. A ideia é evitar ruídos com os tucanos gaúchos para não reforçar o discurso de alguns integrantes do partido de que antes da reconstrução, vêm os interesses eleitorais do Palácio do Planalto no estado e em Porto Alegre — sobretudo depois que pesquisas eleitorais mostram a deputada Maria do Rosário (PT-RS) à frente do prefeito da capital, Sebastião Melo (MDB), que busca a reeleição.
PLs querem rever Código Ambiental
Com o desgaste do governador, a oposição na Assembleia Legislativa do estado quer revogar medidas que flexibilizam o Código Ambiental gaúcho. Em 2019, no primeiro mandato do tucano, foi apresentada uma proposta de alteração das regras, aprovada rapidamente pelo Legislativo estadual e que mudou 480 pontos da lei então vigente.
Projetos de lei assinados por deputados do PT e do PSol querem rever as alterações e voltar à redação original da Lei Ambiental. Os projetos querem, ainda, reforçar os meios para a proteção do Pampa, bioma que só existe no estado, e definir a criação de um instituto para gerir os recursos hídricos do Rio Grande do Sul.
Os principais pontos a serem atacados pelos projetos são: 1) a reversão do autolicenciamento ambiental; 2) a proibição de uso e venda, no estado, de agrotóxicos que são proibidos no país de fabricação; e 3) o cancelamento da permissão de construção de barragens em áreas de preservação permanente (APPs).
O deputado estadual Adão Pretto (PT), um dos defensores da revogação das alterações feitas em 2019, disse ao Correio que o governador não trata a questão ambiental no estado. “Eduardo Leite tem adotado uma postura de descaso com a questão ambiental. Em 2023, houve ciclones, duas enchentes que deixaram mais de 50 mortos e, agora, a maior catástrofe da história do Rio Grande do Sul. Os recursos destinados a solucionar o problema são do governo federal. Leite, até o momento, não disponibilizou nada de recursos dos cofres estaduais. E não revisou os pontos alterados e as permissões”, explicou. A flexibilização do Código Ambiental foi realizada, à época, sob o pretexto de favorecer o ambiente de negócios.
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